Robôs Racistas, Desemprego e Minorias: Preocupações éticas da transformação de processos

Quais são as questões éticas comuns enfrentadas em projetos, especialmente aqueles de transformação dos negócios?

Grande parte das organizações atualmente possui Códigos de Ética, formalmente comunicados e  distribuídos a todos os empregados, seja num livreto ou em um treinamento online. Esses documentos costumam cobrir os aspectos básicos de compliance,  conflitos de interesses e ações anti-corrupção principalmente. 

Mas seguir o código de ética da firma não é, necessariamente,  o suficiente para se considerar um profissional ético. E trabalhando com projetos de melhoria de processos  há diversos desafios que não estarão cobertos pelo Código.

Desde Sócrates, 7 séculos A.C., os filósofos discutem a definição de ética e o que isso reflete em nosso comportamento individual e como sociedade.  Eu, particularmente, gosto da definição de Kant:

Age como se a máxima de tua ação devesse ser erigida por tua vontade em lei universal da Natureza.

Imperativo Categórico de Kant

Mas como também quero tornar essas orientações em algo prático, de maneira a ter uma Régua Ética, então simplifico isso como “imaginar se minha ação ou ideia pode ser generalizada para todos”, ou seja: se eu posso fazer, todo mundo pode também,  e isso é bom!

Algumas das preocupações ou dilemas éticos que presenciei durante projetos são óbvias de diferenciar o certo do errado, outras nem tanto, e devem ser colocadas ao lado da Régua ética para avaliação mais criteriosa.

Muitas vezes há intenções ruins numa ação antiética, mas na maioria das vezes acontecem por questões culturais, socioeconômicas ou decisões erradas. Os casos abaixo podem exemplificar alguns dos dilemas éticos e como uma Régua Ética pode ajudar.

1° Caso: O PROJETO VAI TIRAR O EMPREGO DAS PESSOAS

Confrontado com uma questão dessas, o líder responderia a verdade nua e crua e assim lidar com possível evasão de pessoas e falta de apoio na condução do projeto?

Ou seria melhor omitir (mentir) dizendo que não há com o que se preocupar, e que tudo vai dar certo pra todos – quando na verdade não irá?

Minha primeira leitura é que é melhor falar a verdade uma vez, e logo cedo – mesmo que doa – do que desculpar-se pela mentira diversas vezes no futuro, e com isso perder sua credibilidade profissional.

Como gerente de um projeto a obrigação é antecipar-se a esse tipo de questão e alinhar a comunicação previamente com os stakeholders.

Pela Régua Ética, se em todos os projetos nós não deixamos claros qual a intenção e o impacto para as pessoas, isso seria bom ou ruim para o grupo? Creio que a resposta aqui é obvia.

2° Caso: TRATAMENTO DIFERENCIADO DE MINORIAS

É fácil dizer que não há discriminação de raça, cor, orientação sexual e etc., porém aplicar na prática, sabemos, não é simples.

Dentro do contexto de melhoria contínua, especialmente no que tange a performance dos indivíduos, é fácil colocar o interesses econômicos à frente do benefício das pessoas e sociedade.

Um exemplo é descobrir que a produtividade um grupo, digamos, de indivíduos homens jovens e solteiros é melhor que de mulheres casadas com filhos pequenos e com isso criar uma política, mesmo que informal, de preferir um grupo em detrimento de outro.

3° Caso: ROBÔS RACISTAS

Outra preocupação é com automação. Inteligência Artificial e Machine Learning estão cada vez mais tomando as decisões que outrora eram exclusiva de humanos. Estes algoritmos são construídos com base em massas de dados que eventualmente retratam o racismo estrutural da sociedade.

Então, ‘involuntariamente’ cria-se uma automação que discrimina pobres e e os nega empréstimos? Ou quem sabe impede que negros acessem serviços de saúde (Veja esse exemplo)

Conclusão

Líderes e membros de projetos devem estar cientes que transformações envolvem pessoas direta e indiretamente, e o impacto sobre elas deve ser medido também do ponto de vista ético e moral, e não apenas da eficiência e economia.

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Autor: Erondi Lopes

Tentando entender o mundo desde 1976.

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